De uns tempos para cá todas as
discussões que envolvem temas políticos ou sociais, obrigatoriamente existem
dois polos;
1)
Se o tema em questão for alguma ação do Governo do
Estado de São Paulo e você é à favor, você é elite, de direita, coxinha,
egoísta e não tem direito de reclamar.
2)
Se o tema em questão for alguma ação do Governo
Federal ou Municipal e você é à favor, você é um esquerdopata, hippie,
moderninho e tem todo o direito de defender a ideia, afinal ela é feita para ajudar
quem precisa e se isso prejudica sua vida, é por que você faz parte do primeiro
grupo (elite, de direita, coxinha, egoísta e não tem direito de reclamar).
Não vou nem entrar na discussão
sobre o partido que controla o Governo Federal e Municipal ser de esquerda,
pois não vale à pena perder tempo nisso.
Usando a introdução deste
primeiro parágrafo gostaria de expor minha
opinião sobre as CICLOVIAS, que
se tornaram um tema recorrente e bastante controverso nas redes sociais,
rádios, TV´s, jornais e revistas ultimamente.
Antes disso algumas reflexões.
Durante anos, talvez décadas, o investimento
em transporte público em nossa cidade (Federal, Estadual ou Municipal) tem sido
quase nulo, isso pode ser verificado pelo baixíssimo número de expansões na
malha metroviária (que durante muito tempo só cresceu em extensão, com pouca
ou nenhuma ramificação), quase nenhum aumento da malha ferroviária e nenhum
aumento da frota de ônibus (em Agosto de 2009 tínhamos 14.778 ônibus no
município de SP e em Agosto de 2014 temos 14.779, aumento de 0,01%. Então Sr.
Prefeito, pintar faixas na rua não adianta nada, mas isso é outro tópico, para
outra discussão).
Esta escassez de investimento faz
com que o transporte público de massa fique cada vez mais lento, cada vez com
pior qualidade e cada vez atraia menos passageiros. Ao somarmos à isto anos e
anos de incentivos fiscais para montadoras de automóveis, facilidade de
financiamento o resultado só pode ser um, AUMENTO DA FROTA DE VEÍCULOS (em 10
anos a frota paulistana aumentou 77%).
Isto posto, voltemos às
ciclovias;
Se fizermos uma rápida pesquisa
pela Internet, poderemos constatar que as bicicletas são excelentes meios de
transporte para distâncias de até 10km em grandes metrópoles. E que em países
desenvolvidos europeus e países Asiáticos, as magrelas são utilizadas em larga
escala e dividem espaço com carros, motos, ônibus e caminhões.
Mas porque isso é possível lá e não é possível aqui? Na
minha opinião existem alguns fatores;
·
Timing: uma coisa é colocar bicicletas para
dividir espaço com carros em 1970/80. Outra é tentar fazê-lo em 2014!
Principalmente depois dos erros feitos em SP já citados anteriormente.
·
Educação: quem frequenta o trânsito paulistano
diariamente sabe que educação é algo raro de se encontrar entre motoristas,
motociclistas, ciclistas e pedestres. Poucos conhecem as regras e quem as
conhece não as respeita. Pois não existe um projeto de educação, apenas um
projeto de punição via câmeras. Que pode ser ótimo para os cofres públicos, mas
não educa ninguém, nem muda a situação atual;
·
Cultura Ciclística: bicicleta no Brasil é
brinquedo de criança, equipamento de lazer ou esportivo. Pouquíssimas pessoas
enxergam a bicicleta como meio de transporte. Mesmo assim 300 mil pessoas
utilizarem este meio de locomoção diariamente na Grande Sp.
300.000 pessoas é um número
considerável, mas se considerarmos os 21.000.000 de habitantes da Grande São
Paulo represantam apenas 1,4% da população.
A criação de ciclovias, sozinha,
pode até fazer este número de usuários aumentar. Mas para que o aumento do número
de usuários atraídos seja grande o suficiente para causar impacto no trânsito, pintar
faixas vermelhas na rua não irá resolver. Apenas isso não irá fazer com que
pessoas deixem seus carros em casa e optem pela bicicleta. Precisa haver um
projeto integrado de conscientização, estímulos e incentivos para criar uma
cultura ciclística. Se o projeto for apenas entregar 400km de ciclovias da
forma como está sendo feito, é de esperar que desagrade muito mais pessoas do
que atraia novos ciclistas.
Na minha opinião (faço questão de
ressaltar sempre que é MINHA OPINIÃO) a prefeitura deveria criar todo um pacote
para vender a ideia da bicicleta para a população, criando campanhas na
internet, televisão, rádio, jornais e revistas, apresentando projetos, a
infraestrutura que está sendo montada, a segurança oferecida para quem quiser
usar a bicicleta. Associado à isso, baixar impostos sobre as bicicletas (hoje são
40% do preço contra 32% nos carros), incentivar empresas ( como este projeto inglês ) a oferecerem
vestiários e bicicletários, ou mesmo construir vestiários e bicicletários
públicos para que as pessoas possam se trocar, afinal ninguém quer chegar sujo,
suado e fedido no trabalho, criar bicicletários seguros em estações de ônibus,
trens e metrô e até incentivos financeiros para quem usar a bicicleta (existem
exemplos assim no mundo França pagará para quem usar a bicicleta )
Mesmo se todas estas medidas
forem tomadas, não será possível que todas as pessoas passem a utilizar a
bicicleta como meio de transporte. Muitas vezes o tipo de trabalho que a pessoa
executa exige vários deslocamentos diariamente, a distância pode ser impeditiva e alguns simplesmente preferem o carro e estão em seu direito. Isso não faz destas
pessoas, egoístas, coxinhas, politicamente incorretos, direitistas, elitistas
etc...
Assim como aqueles que após analisar as possibilidades optarem pela bike, não são vagabundos, não tem vida mansa, não são hippies, esquerdopatas etc...
Assim como aqueles que após analisar as possibilidades optarem pela bike, não são vagabundos, não tem vida mansa, não são hippies, esquerdopatas etc...
Acredito sim que a o uso da bicicleta como meio de transporte é uma das soluções para a mobilidade urbana na cidade de São Paulo. Ao criarmos um programa que melhore o transporte de massa (ônibus, trens e metro), existam ciclovias interligadas com infraestrutura que propicie condições de segurança e até mesmo conforto (como vestiários) estaremos deixando uma cidade muito melhor de se vivier para as futuras gerações (Lucas, Felipe, Rafael, Dudu, Gabi e Enrico, nova geração de Nitrinis/GianottisVassalos/Capelossis, agradecem).
Existe espaço para todos, com
planejamento, organização e, principalmente, respeito às opiniões contrárias.
Abs!
Abs!